quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Insólitos Acrómicos


Lembro-me daqueles dois rostos cheios de expectativas que, de repente, ficaram sóbrios e sem realce. Se chamavam Carlos e João Paulo, e eram meus alunos no CTV (Centro de Treinamento em Vôlei) da cidade de Alagoas. Aquele era de uma das famílias mais humildes da cidade, que se mantinha basicamente de programas sociais do governo, e este era filho do administrador da maior empresa da região, a fábrica de doces, Herman. Eles sonhavam em entrar para a seleção nacional de vôlei, e realmente tinham chances.
                Hoje essas chances já acabaram. Certo dia, estavam andando pelo calçadão da praça principal, umas onze horas da noite, quando um cara chamado Rubião entrou em suas vidas:
                -Tenho um negócio aqui que é muito bom, nunca me deixa triste, e me ajuda em tudo!  Como sou uma boa pessoa, quero dá-lo a vocês.
                -O que é esse negócio? – perguntou Carlos.
                -Se chama heroína. Como o próprio nome já diz, é um heroi! – disse o homem, com certa anarquia.
                Os dois garotos eram inocentes, tinham seus treze anos. Achando que aquilo iria ajudá-los em suas carreiras, aceitaram.
                Algum tempo depois, a droga que era dada, passou a ser vendida, e a coisa foi ficando feia. Os dois estavam com um estado emocional desequilibrado, e precisavam cada vez mais da droga. As famílias, que obviamente já haviam descoberto, começaram a fazer pressão para que os filhos parassem com as drogas. Então, eles fugiram de casa, e desde então, não os vi.
                Dois meses depois, recebi uma carta que convidava Carlos e João Paulo para treinar na seleção nacional de vôlei.
                Essa história aconteceu há dois anos, e há uma semana, saiu o noticiário de que encontraram os corpos de João Paulo e Carlos, no Rio de Janeiro, onde aconteceu um tiroteio por causa de crack.

1 comentários:

Anônimo disse...

triste

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